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O impacto econômico do congestionamento no Canal do Panamá: inflação e perdas no transporte marítimo

Jul 06, 2023

Mais de 100 navios de carga aguardam para cruzar o Canal do Panamá, que foi forçado a reduzir a capacidade devido a uma seca devastadora. O atraso poderá alimentar a inflação, especialmente nos Estados Unidos, e causar enormes perdas às companhias marítimas que atravessam o estreito.

Uma grave seca na região da América Central, combinada com os processos hídricos historicamente ineficientes do Panamá, reduziram os níveis de água no canal. Os níveis caíram tanto que a Autoridade do Canal do Panamá teve que reduzir o número de navios que cruzam todos os dias de 36 para 32.

“Pouco mais de uma centena de navios em ambos os lados do Canal [estão à espera para transitar]”, disse a autoridade num comunicado de imprensa na terça-feira. O impacto económico será sentido mais fortemente nos Estados Unidos, onde os preços dos bens atrasados ​​poderão subir. Os contentores de exportação e importação de mercadorias dos EUA representam 73% do tráfego do Canal do Panamá, representando cerca de 270 mil milhões de dólares em carga. O Panamá provavelmente não será tão duramente atingido pelo atraso, já que o canal gera apenas 6% do produto interno bruto (PIB) do país.

As empresas de transporte marítimo deverão incorrer em pesadas perdas devido ao gargalo. A Maersk, que é a segunda maior empresa de transporte marítimo do mundo, disse que está trabalhando para garantir que o atraso não atrapalhe suas entregas. “Seguimos as orientações do Canal do Panamá e adaptamos nossa captação de serviços relevantes antes da partida na origem. A Maersk continua comprometida em minimizar interrupções em nossas operações”, afirmou em comunicado à imprensa. A empresa dinamarquesa movimenta mais de quatro milhões de navios TEU (unidade equivalente a vinte pés) todos os anos. Em 2021, viu suas receitas atingirem US$ 62 bilhões. Maersk acrescentou que os baixos níveis de água no Canal do Panamá são um lembrete claro da crise climática e do seu efeito cascata nas cadeias de abastecimento globais.

Ainda não há estimativa de quanto custará o congestionamento do Canal do Panamá às companhias marítimas, mas a situação lembra a crise de 2021 no Canal de Suez, no Egito. Nesse caso, as companhias marítimas sofreram perdas multibilionárias quando o navio porta-contêineres Ever Given ficou preso e bloqueou o acesso ao canal.

Para o economista Eduardo Zegarra, o atraso no Panamá é um sinal daquilo que ele vem alertando há anos. Em 2017, o especialista em questões agrícolas e hídricas realizou um estudo para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no qual estimou que os níveis de água no canal cairiam tanto que afetariam a cadeia de abastecimento global. “Provavelmente isso acontecerá duas ou três vezes”, previu.

As alterações climáticas estão a causar secas graves em algumas partes do mundo, enquanto outros países assistem ao aumento do nível do mar devorar terras costeiras. Segundo Zegarra, as mudanças climáticas são a principal causa dos problemas no Canal do Panamá, mas não são a única. “Há um problema sério com o uso muito ineficiente da água para consumo humano na Cidade do Panamá. As taxas pagas pela população são bastante baixas. Não cobrem sequer os custos básicos de produção”, explicou.

Em junho de 2016, foi inaugurada uma terceira via de trânsito no Canal do Panamá, o que aumentou a sua capacidade. Porém, nenhum investimento foi feito para ampliar a fonte de água do canal, afirma Zegarra. A bacia que abastece o canal é a mesma que abastece a população da Cidade do Panamá, explica. “Se olharmos para o valor da água para uso no canal em comparação com a água potável, há um diferencial de quase cinco vezes. Isso poderia ser estudado pelas autoridades, a fim de encontrar fórmulas para criar maior eficiência no uso da água potável de forma mais eficiente, o que proporcionaria um pouco mais de disponibilidade para uso da água no canal”, disse Zegarra.

Dois outros incidentes em canais também foram registrados recentemente. A primeira ocorreu no Canal de Suez, onde houve “ligeiro contacto” entre um transportador de gás natural liquefeito e um petroleiro que provocou a suspensão do tráfego durante várias horas. Na quarta-feira, o trânsito voltou normalmente.